RUA ANTÔNIO FÉLIX DE MIRANDA
(Antiga Rua dos Frades)
O
Dr. Antonio Félix de Miranda nasceu em Campos no dia 16 de Setembro de 1878.
Mais um campista a deixar, graças às suas ações construtivas, o seu nome na
história. Pertencia a uma das mais tradicionais famílias da planície – a
Família Miranda – industriais e proprietários da extinta Usina Santo Antonio,
dentro os quais se encontrava o ex-senador da República, Tarcísio d´Almeida
Miranda, seu irmão.
Como
tantos outros filhos desta terra, nascido no século passado (Referindo-se ao
século 19), aprendeu aqui as primeiras letras e cursou o preparatório.
Entretanto, quando manifestou o seu desejo de fazer um curso superior, teve que
demandar outra cidade. Formou-se em Direito. Quando de posse do seu diploma
resolveu abrir em Campos a sua banca de advogado, instalou-se no prédio 28 da
Praça São Salvador, a principal de sua cidade natal.
Félix
de Miranda desde cedo deu mostra da sua brilhante inteligência. Mais do que
isso, possuía aquelas qualidades, não apenas próprias de um causídico, mas de
um político nato: astucia e sagacidade. Tinha grande facilidade de expressão,
em qualquer situação, sobretudo quando era levado pelas circunstâncias a falar
ao grande público. Fazia sempre sucesso quando de suas peregrinações políticas,
dirigia a palavra, tanto a pessoas simples como a homens preparados.
Quando
se decidiu servir à sociedade através da política, foi pra valer. E a maior
prova do prestígio que desfrutava entre os cidadãos campistas e fluminenses,
está no fato concreto de ter sido eleito nada menos de três vezes. Deu apoio ao
General Pinheiro Machado de quem era grande amigo. Era ele casado com Dona Ana
Maria do Carmo Miranda. Do casamento nasceram os seguintes filhos: Félix,
Lucília, Maria José e Maria Luiza. Dos quatro apenas vive Maria Luiza.
Dr.
Félix teve um sobrinho que chegou a servir ao Governo de Portugal. Trata-se do
senhor Mário Aloisio Cardoso de Miranda, Ministro naquele país.
Dr.
Antônio Félix de Miranda faleceu em 16/09/1927. As homenagens póstumas que
recebeu foram valiosas. Seu nome passou a identificar uma antiga rua do centro
de sua cidade – a Rua dos Frades.
Uma
década após a sua morte, pelo Decreto Estadual, do dia 9 de novembro de 1938,
assinado pelo então Interventor Federal, Amaral Peixoto, foi criado o Colégio
Dr. Félix de Miranda, situado no atual Parque Guarus, à Rua Rio Bonito, 152,
cuja implantação se deve à professora Conceição de Gouveia, sua primeira
diretora. A história desse tradicional educandário, figura noutro trabalho
deste autor. (Texto publicado no livro
“Gente que é Nome de Rua”, de Waldir Pinto de Carvalho, 1985, p. 234).
Rua do Frade – Conforme publicou o
historiador Horácio de Souza, em seu livro “Cyclo Áureo” – História do 1º
Centenário de Campos. (Memórias Fluminenses, Ed. Essência, 2014, 2ª Edição),
mas que tivera a primeira edição registrada em 1935, o nome da Rua do Frade,
que também homenageara Gwyer de Azevedo – (...) é uma travessa que já foi
chamada de Marcelino Braz. Sempre a conhecemos pelo nome de Rua dos Frades e
lembramo-nos de que o velho e respeitável Padre Correa de Sá (há muitos anos)
nos explicara que a designação advinha da circunstância de ter morado lá num
prédio de feitio bisonho, em forma de pombal, com acesso por uma escadinha
exterior, no centro do terreno, onde é hoje construído o Cine Mascote, um velho
frade da Ordem Franciscana, cujo religioso vivia recolhido naquele seu
conventículo, e certo dia foi encontrado morto na escada, vitimado por um
insulto cardíaco.
Diz
o escritor: “Lembramo-nos de que a rua era bem lamacenta, em 1887, e no mês de
maio do ano seguinte foi que a Câmara contratou o seu calçamento com José
Negri”. Essa rua já teve e tem denominações esquisitas pela inexpressão das
pessoas que são homenageadas pela política, em relação à coletividade campista.
É
dele a reclamação, justa por sinal: “Quantos conterrâneos ilustres, e valorosos,
como Saturnino de Brito, Mariana Barreto, etc., que ainda não têm uma rua,
mesmo do feitio da Rua dos Frades, como homenagem de admiração e gratidão do
seu povo...”.
Centro Histórico
O
centro histórico da cidade de Campos dos Goytacazes foi praticamente
consolidado, a partir do Plano Urbanístico do sanitarista Francisco Rodrigues
Saturnino de Brito, planejado em 1902, muito embora as obras de organização
urbana somente tenham sido iniciadas após 1906, como registra a pesquisa da
Dra. Teresa de Jesus Peixoto Faria, no texto “As reformas urbanas de Campos e
suas contradições”.
Ela
cita, em sua pesquisa, que havia, além da reformulação urbanística, a
necessidade de resolver questões d falta de saneamento, responsável pelas
epidemias, como a peste bubônica, que assolou o município, situação agravada
pela grande enchente verificada naquele ano, resultando em inundações, o que
levou o médico Dr. Benedito Pereira Nunes, idealizador da “cidade saneada”, a
observar que, em 1906, nada tinha sido feito com relação ao projeto de
Saturnino de Brito. E fez o seguinte discurso, publicado na Gazeta do Povo,
solicitando a intervenção do Governo Federal:
Em 1901, quando presidia a Câmara
Municipal de Campos, eu disse que, realmente, Campos, doada de uma natureza e
de situação topográficas excepcionais e que poderia ser chamada a Sultana da
Paraíba se transformou, por negligências da engenharia indígena e da edificação
colonial numa cidade de ruas tortuosas, de becos e de ruelas escuras, cheia de
casebres obscuros e insalubres, criando, assim, um ambiente de condições
idênticas às das cidades asiáticas, onde a peste é endêmica. Os velhos casebres
que existem ainda hoje e onde vive a classe operária pagando baixos alugueis,
confirmam este estado de coisas. Atentados flagrantes às regras de higiene,
legitimando de maneira criminosa o direito dos proprietários pouco
escrupulosos, exploradores conscientes dos pobres moradores de casebres úmidos,
verdadeiros pardieiros pagos com o suor das vítimas.
Tetê
Peixoto assinala: E é o próprio prefeito Ferreira Landim que, em novembro de
1906, anuncia, em discurso também publicado no mesmo jornal, no qual fala nas
dificuldades para colocar a arquitetura de suas habitações de conformidade com
os novos modelos em difusão: “O problema
de salubridade das habitações exige, mais do que nunca, a atenção do poder
municipal. É necessário melhorar as condições de higiene das casas, transformar
o sistema de edificações, expurgar a cidade dos velhos casebres, focos de
infecções de toda a espécie – da tuberculose e da peste, principalmente. No ano
passado, fiz demolir nos termos da lei, 45 desses velhos pardieiros e as
enchentes completaram, em parte, esta obra de saneamento (...)”. A reforma
urbana na cidade de Campos dos Goytacazes obedecia, em tese, ao que era feito
no Rio de Janeiro, nos tempos de Pereira Passos, por volta de 1904.
Da
lista de demolições de velhos edifícios, publicados em seu trabalho, que
parecem prejudicar a imagem da cidade constam 32 demolições e foram condenados
16; construíram-se nove casas novas; 18 foram totalmente reconstruídas, e 16
parcialmente; foram feitos 48 grandes reparos e 217 pequenos reparos. E o Dr.
Pereira Nunes, condenou a cidade “velha”, segundo ele, invadida por ratos. E
reafirma que “Campos reclama de medidas como impermeabilização do solo e a abertura
de áreas de circulação”,
No
documento, a pesquisadora salienta (...) O velho tecido urbano é transformado,
progressivamente, graças às reformas que visam, além do embelezamento da
cidade, dar-lhe uma melhor funcionalidade, adaptando-a aos interesses da
economia capitalista e da burguesia em plena ascensão. Finalmente, neste começo
do século XX, é necessário dotar a cidade dos símbolos do progresso e de uma
imagem de modernidade.
E
ele descreve algumas mudanças operacionalizadas com as reformas do Plano
Saturnino de Brito: “As Ruas: 21 de Abril, Sete de Setembro, Constituição (Rua
Alberto Torres) e Formosa (Tenente Coronel Cardoso) foram alargadas; a antiga
Praça das Verduras (Praça do Chá-Chá-Chá) foi urbanizada e transformada em
praça de lazer; a Praça São Salvador, já com belo jardim, é ornamentada com uma
fonte, os edifícios se renovam como o Renne, o Café High-Life,m Bom Marché e
novos edifícios surgiram, como o do Banco do Brasil (1910), Associação
Comercial de Campos (1913), Correios e Telégrafos e sede da Lira de Apolo
(1917) e o antigo Teatro Trianon (1921). Desses citados, somente sobreviveram o
Renne (com mudanças nos anos 50) e a Lira de Apolo (ora em restauração).
Hoje,
o conjunto de obras ecléticas, o maior do interior do Estado, praticamente está
restrito às Ruas: 21 de Abril, Santos Dumont, Teotônio Ferreira de Araújo
(antiga Barão de Cotegipe), Praça do Santíssimo, Sete de Setembro, 21 de Abril,
Avenida Rui Barbosa, Rua 13 de Maio (antiga Rua Direita) e Rua Formosa (Tenente
Coronel Cardoso), embora existam outros espécimes da época espalhados por
outras artérias da cidade, atingindo até bairros mais distantes e em alguns
distritos, como Goytacazes, Dores de Macabu, Murundu, Santa Bárbara, Vila Nova,
Morro do Coco, Santa Maria e Santo Eduardo. Só para citar alguns...
O
centro histórico de Campos é, com outros avanços ocorridos nos anos 40, por
intervenção da empresa Coimbra Bueno, nos tempos áureos do Prefeito Salo Brand,
que era engenheiro, o que estabelece a Lei (Plano Diretor) 7.972, de
30/03/2008, quando se inicia, embora tardiamente, a se adotar uma política de
preservação do patrimônio Histórico e Cultural do Município, cuidando de suas
instâncias materiais e imateriais.
Inventário em: 04/03/2016
Fotografia: Valdimir da Silva
Salino
Responsável: Orávio de Campos
Soares
Nenhum comentário:
Postar um comentário